Que bom que a gente muda

Por Amor foi a primeira novela que assisti do início ao fim. Já tinha passado o olho em algumas, mas como era criança, preferia ficar na rua brincando. Mas, em outubro de 1997, eu então com nove anos de idade, peguei a novela do Maneco pra assistir.

Pela primeira vez me envolvi com uma história que não era um desenho animado. Entendi a estrutura dos personagens, torcia para os mocinhos, achava graça da vilã, me compadecia pelo bondoso Léo (Murilo Benício), tinha uma pena gigante do alcoólatra Orestes e ficava meio impressionada com a paixão de Nando e Milena (Eduardo Moscovis e Carolina Ferraz) – que vamos combinar, era meio impróprio pra minha idade.

Uma das lembranças mais fortes que tenho da trama é a traição. O mocinho Marcelo (Fábio Assunção) traiu a esposa Maria Eduarda (Gabriela Duarte) com a vilã Laura (Viviane Pasmanter). Eu pensava que era impossível perdoar uma traição, mas ao mesmo tempo torcia para o casal protagonista ficar junto. A sensação de pensar na traição foi muito forte na época, eu ficava analisando o que os personagens deviam ou não fazer.

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A novela foi reprisada em 2002 no Vale a Pena Ver de Novo Rede Globo e, super feliz, assisti à trama pela segunda vez. Em 2017, a novela está sendo reprisada mais uma vez, agora no Canal Viva, em comemoração aos seus 20 anos de estreia. Assisto apenas aos sábados, quando reprisam o capítulo exibido na sexta-feira anterior. O que me levou a escrever este texto foi a percepção de: que bom que a gente muda!

Eu adorava Marcelo e achava ele lindo (ainda acho). Fábio Assunção foi meu primeiro crush da vida. Na 3ª ou 4ª série eu tinha um caderno com o ator estampado na capa, com aquele cabelo mais comprido de O Rei do Gado. Marcelo representava o cara bonito, jovem, bem sucedido e galã que, perdidamente apaixonado pela esposa, abria mão das dezenas de mulheres que caiam no colo dele. E eu achava isso bem legal.

Assistindo à novela hoje, cada cena só confirma o tanto que Marcelo é babaca. Tudo tem que ser do jeito dele, ele nunca se envolve na criação do filho, trata o sogro como se fosse um lixo, é um babaca com a sogra, não deixa Eduarda olhar pro amigo (ex-namorado de infância), trata mal os irmãos, é um filhinho da mamãe que nunca a critica por tratar os dois irmãos como lixo e já bateu na Laura algumas vezes. Ou seja, o mocinho Marcelo, além de babaca, era um agressor de mulheres.

E falo isso hoje sem criticar o autor da novela. Assistindo à trama com a maturidade que tenho hoje, entendo que Maneco mostrou uma situação. Nos apresentou uma família de classe média alta com todos os seus defeitos e qualidades. Em momento algum ele exalta a babaquice de Marcelo, apenas nos mostra quem ele é. A idiotice do mocinho fica latente na discrepância de caráter dele em relação ao irmão: o bonzinho Léo.

O bom disso tudo é que a gente muda! Pelo menos algumas pessoas mudam. E eu fico feliz que mudei minha cabeça. Continuo achando o personagem bonito fisicamente, mas como ser humano ele chega a ser repugnante. O erro não estava na representação do personagem, mas sim em quem o via como um grande galã. Eu tinha a percepção do mocinho perfeito aos 9 anos de idade, e também um pouco na adolescência, quando a novela foi reprisada. Mas que bom que a gente cresce, né?!